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Um lembrete para o futuro

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Pensando bem, 2023 não foi este ano caótico que, sem pensar, fico reafirmando por aí. Foi um ano de faxina e, nessa faxina, descobertas. Acho que foi assim para muita gente. A gente aprendeu que devemos reclamar, que devemos dar ênfase aos nossos perrengues, problemas e frustrações, enquanto nos bastidores corre um riacho calmo e constante. Passamos a vida dando atenção às coisas que não dão certo. Tanto que lembramos muito mais do que nos frustrou do que do que conquistamos. Acho que todo mundo deve ter essa visão deturpada da vida, como se fôssemos programados para manter a cabeça baixa para não vermos tudo o que existe à nossa volta. Passa um filme em minha cabeça. Uma animação Disney com nuvens e balões em tons de pastéis, e flutuando nesse lugar suave e colorido, há uma criança vestida de princesa e sapatos de bailarina e cabelos cacheados castanhos, com cachos suaves. Que criança bonita! Mesmo com os joelhos escuros dos ralados da infância, mesmo com algumas marquinhas em seu ros

Contra-corrente

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Eu sinto em meu corpo uma brisa fria, mas o dia está quente la fora. Há algumas estrelas solitárias no céu escuro sem a presença da lua. Sinto um cheiro entrar pela janela do quarto, é doce. No geral, faz silêncio, mas se eu me concentrar eu ouço os ruídos da vida que segue seu fluxo, la fora. Eu não faço mais parte.  Minha pele cheira a sabonete, no meu recanto só há a penumbra e um vazio tão intenso que incomoda. Eu fecho os olhos, puxo o ar... quero que as palavras fluam mais uma vez e encontre o mais profundo abismo dentro de mim, trazendo essa dor que insiste em incomodar.  Me pergunto o sentido de permanecer distante da vida lá fora. Me questiono o motivo de não me aproximar. Quando olho, parece que já faz alguns anos que deixei os remos e não controlo mais o rumo que eu sigo. Já faz algum tempo que me alimento dessa letargia e de pílulas para dormir que me causam insônia. Já faz algum tempo que estou perdida e caminhando sozinha.  Eu não encontro as respostas, mas também não sei

Lembrança (Hoje a noite não tem luar)

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Eu lembro que eu vestia uma calça branca e uma blusa de tule azul turquesa.  Naquela época não era possível alisar o cabelo e  meus cachos modelados com gelatina caiam pelas costas.  Eu me lembro do cheiro. Não usava maquiagem e as bijuterias não combinavam com os sapatos de segunda mão.  Era fim de ano, festa  da igreja.  Naquela época era feita na escola e tinha uma mesa de frutas.  Eu não queria sentar no chão (minha calça branca), mas estava encostada na mureta sob as árvores que escondiam a luz laranja dos postes.  Fazia uma brisa suave que soprava o cheiro das frutas misturados com a gelatina do cabelo.  O gosto era doce.  Eu lembro do sorriso meio bobo, dos fones de ouvido e do cd “novo” da Legião.  Eu ouvia escondido.  Me lembro do olhar enquanto ele caminhava em minha direção.  Havia lua, mas eu cantava baixinho “hoje a noite não tem luar”.   A gente se entendia... as pernas cederam e nos sentamos no meio fio, de costas um para o outro, servindo de encosto a ambos, abraçando o

Uma carta na brisa para meu terapeuta (ou será para meu amigo)

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Eu aguardo alguma coisa chegar, mas não sei exatamente o que é. De repente, minha mente parece diminuir e todos os pensamentos fogem. Sinto um leve formigamento nos dedos enquanto digito. Meus dentes estão mais apertados que o normal, rangendo uns contra os outros. Meu coração bate rápido, o sangue que pulsa na garganta queima. Quero salvar o mundo, mas também desejo só ir deitar com um livro nas mãos e me perder em um universo paralelo e único. Quero respirar enquanto corro para não perder o próximo trem. Essa sensação é maravilhosa, o calor que transpassa o corpo, pulsos acelerados, mãos ágeis. Então, por que esse pensamento irritante de que "existe algum perigo"? Por que sinto o sangue tão quente que parece sufocar, e a boca fica seca de um jeito indecente? Nos últimos 5 minutos, enquanto escrevo estes parágrafos, tive várias ideias, indo e vindo, umas contra as outras, se misturando por todas as direções. Parece aqueles vídeos do Instagram com carros vindo de várias ruas

Sobre: Portas que permanecem abertas

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Eu tenho pensado em tanta coisa que nem sei explicar, minha cabeça fervilha em ideias, lembranças e ficções, misturando o passando com projeções imaginárias de um futuro irreal e inexistente. É difícil quando a gente não se conecta com os próprios pensamentos e tudo a nossa volta parece não ter sentido algum. Eu me sinto assim, desconexa, querendo fugir para algum lugar que eu nem sei onde é, sempre caminhando paralelamente à um abismo e esperando um tropeço ou um desvio para que eu possa cair nesse profundo de silêncio. Eu fecho os olhos e sinto uma dor tão profunda e agonizante que dá vontade de gritar. O vento fraco que entra pela janela trás um perfume suave e as poucas estrelas que consigo ver daqui refletem um desejo de me entregar ao infinito. Desconheço o caminho que estou seguindo. Algo em mim insiste em dizer que estou apenas tentando me encontrar, descobrir quem eu sou de verdade, quem eu posso ser, quais as coisas que eu gostaria de levar comigo em minhas jornadas e quais

Sobre: Criar expectativas de mais

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Houve um dia desses que acordei e vi que eu não reconhecia nada em minha vida, tudo o que eu acreditava, esperava, queria estava vinculado a algo que tinha ruído. Uma sensação de perda e desespero batia forte em meu peito me sufocando de uma forma incomum, porque além da decepção eu me senti completamente perdida e vazia. Perder algo que a gente acredita possuir pode ser uma ruína tão completa que destrói de uma só vez todas as estruturas que construi até aqui. É triste e muito dolorido quando temos nossa verdade arrancada de nós de uma forma violenta. A verdade é que criamos tantas expectativas que demora muito para gente entender que a decepção nada mais é que um reflexo de nós mesmos. Um dia eu tinha todas as certezas, todas as perguntas respondidas, toda a segurança de que estava tudo “nos trilhos” e no outro não tinha mais nada e tudo o que acreditava e toda expectativa que criei e tudo que eu esperava estava estraçalhado diante de mim. Um sentimento de dor intensa permanece dentr

Sobre: Escrevendo coisas novas no blog

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Por muitos anos este blog foi um ponto de apoio pra mim. Eu escrevo nele desde 2010, mas na verdade eu tinha outros blogs desde um pouco antes que se perderam por aí. Escrever era muito além de um hobby, aqui nas longas postagens ou simplesmente numa frase qualquer há muito de mim. Histórias reais que vivi, estórias que inventei, sonhos que sonhei e dores que senti. Seja em forma de poesia ou de texto, eu passei pelos piores momentos da minha vida com um computador na mão transformando o que estava em mim em palavras e me deixando fluir em cada linha. Perder esse hábito de escrever, ou deixar que a vida sufocasse isso também, me deixa triste, pois era uma parte de mim que gostava de ter, falar sobre tudo, como se meu pc pudesse me ouvir e me consolar com minhas próprias palavras. Apesar de ter vivido tempos sombrios, eu encontrei nas palavras uma forma de sobreviver a mim mesma. De uma forma ou de outra, cheguei até aqui deixando um legado que fez parte do meu caminho. E agora eu quero