Sobre: Criar expectativas de mais
Houve um dia desses que acordei e vi que eu não reconhecia nada em minha vida, tudo o que eu acreditava, esperava, queria estava vinculado a algo que tinha ruído. Uma sensação de perda e desespero batia forte em meu peito me sufocando de uma forma incomum, porque além da decepção eu me senti completamente perdida e vazia.
Perder algo que a gente acredita possuir pode ser uma ruína tão completa que destrói de uma só vez todas as estruturas que construi até aqui. É triste e muito dolorido quando temos nossa verdade arrancada de nós de uma forma violenta.
A verdade é que criamos tantas expectativas que demora muito para gente entender que a decepção nada mais é que um reflexo de nós mesmos. Um dia eu tinha todas as certezas, todas as perguntas respondidas, toda a segurança de que estava tudo “nos trilhos” e no outro não tinha mais nada e tudo o que acreditava e toda expectativa que criei e tudo que eu esperava estava estraçalhado diante de mim.
Um sentimento de dor intensa permanece dentro do peito. Uma necessidade insana de obter respostas e justificativas, sendo que é claro: o outro me machuca porque ele quis. Ponto final. A pessoa pode te dar um milhão de porquês, pode explicar de todas as formas, mas no final sempre foi uma escolha e ele me feriu porque ele quis.
Mas a dor que eu senti (e confesso, ainda sinto) não é culpa dele. A dor vem pelas expectativas que criei em cima do outro. E até perceber isso dói, porque eu percebo o quanto eu me anulei e o quanto eu me tornei dependente por amar mais outras pessoas do que a mim mesma.
Esse processo tem resultado em muita terapia, mas aprender a lidar com a rejeição, com a decepção e com a desilusão não é fácil. Aprender a nos priorizar, nos amar e cuidar de nós mesmas é muito mais complicado do que postizinhos motivacionais no Instagram. Ainda mais quando a gente passa a vida inteira cuidando mais dos outros do que de mim mesma, priorizando mais a vontade do outro do que a minha própria e sempre tentando agradar, para ser aceita, para não perder, para fazer parte... sempre buscando no outro uma afirmação de que está fazendo o certo. É difícil olhar para mim mesma e perceber que o amor que dedico aos outros eu posso (e devo) dar a mim mesma, porque esse amor não volta para mim.
O medo de ficar sozinha ou de perder algo se torna tão forte e tão enraizado que a vida entra em uma espiral, de um lado o desespero da solidão, do outro a necessidade de me anular para que o outro me aceite e isso vai rodando na minha cabeça. Perceber que a aceitação é frágil e se quebrou gera um sentimento de fracasso e vazio dentro do peito.
Essa divagação é pra colocar um pouco pra fora algo que tem estado engasgado em mim, porque eu me sinto desvalorizada e triste por algum tempo, tentando encontrar sozinha um novo caminho que eu nem sei como percorrer. Ainda me sinto perdida, ainda me sinto vagando e tentando me colocar em um lugar que não me violento para agradar ninguém. Aprender a viver para mim, para que quando os outros forem embora (porque vão) eu não queira partir atrás.
Para além de frases motivacionais eu tenho tentado aprender a viver para mim, mesmo que isso signifique perder as pessoas por ai.
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