Sobre: Portas que permanecem abertas

Eu tenho pensado em tanta coisa que nem sei explicar, minha cabeça fervilha em ideias, lembranças e ficções, misturando o passando com projeções imaginárias de um futuro irreal e inexistente. É difícil quando a gente não se conecta com os próprios pensamentos e tudo a nossa volta parece não ter sentido algum. Eu me sinto assim, desconexa, querendo fugir para algum lugar que eu nem sei onde é, sempre caminhando paralelamente à um abismo e esperando um tropeço ou um desvio para que eu possa cair nesse profundo de silêncio.

Eu fecho os olhos e sinto uma dor tão profunda e agonizante que dá vontade de gritar. O vento fraco que entra pela janela trás um perfume suave e as poucas estrelas que consigo ver daqui refletem um desejo de me entregar ao infinito.

Desconheço o caminho que estou seguindo. Algo em mim insiste em dizer que estou apenas tentando me encontrar, descobrir quem eu sou de verdade, quem eu posso ser, quais as coisas que eu gostaria de levar comigo em minhas jornadas e quais eu gostaria ou simplesmente preciso deixar pra trás. Algo em mim me diz que o silêncio que carrego é uma forma inútil de tentar dizer o que já não cabe em meu peito.

A solidão me envolve enquanto eu digito essas palavras. Fora de mim a vida acontece em um ciclo repetido enquanto eu vejo os segundos serem engolidos pelo tempo e minha mente ficando perdida em mim mesma. Meu passado e meu presente se misturam num caleidoscópio de emoções, girando... girando... enquanto o tempo passa e eu me definho tentando encontrar uma saída.

Me sinto em um labirinto, estou perdida. Tento me encontrar, mas em mim há desejos que não reconheço mais. Eu vejo meus sonhos despedaçados, vejo meus planos dando errado e eu insistindo em construir uma vida disfarçada de sucesso, enquanto em mim, tudo está ruindo, dia após dia nas lembranças e no desespero.

As pílulas já não fazem mais efeitos, o tremor das pernas e das mãos só reafirmam o quanto estou insistindo em algo que já devia ter se findado. O queimar no estômago me lembra que meu esforço é em vão e solitário, como um adeus que ficou preso no vazio da minha indecisão.

Quando alguém decide que é hora de partir, não há nada que o faça ficar. Mesmo que seu corpo fique, seu coração e sua alma já partiram antes mesmo da decisão. É assim que me sinto, vivendo com um corpo vazio, sem emoção e sem o desejo de ficar.

As escolhas refletem as intenções e, a cada momento, mais eu tenho certeza que é só uma questão de tempo até que o inevitável aconteça outra vez, e de novo... e de novo...

Eu não sei romper ciclos, quisera eu poder quebrar essa algema invisível que acorrenta minha mente e me prende nesse desespero, me torturando com sussurros de que eu escolhi o caminho mais fácil por ser fraca, por medo, por não suportar o peso de decidir, por não querer quebrar aquilo que cuidei com tudo de mim, por anos.

A historia se repete e mais uma vez eu não consigo ditar as regras, eu permaneço em silêncio, mesmo que em um momento ou outro lágrimas caem dos meus olhos e denuncie minha dor, uma dor profunda que mantem aberta a ferida e sangra as lembranças que me maltratam... uma a uma... eu permaneço cada vez mais em silêncio, tentando me afastar do meu algoz para enfim me libertar do que me faz sofrer.

E eu sei que eu continuo insistindo e sonhando e querendo que tudo volte a ser como antes, mas tudo mudou e nada vai trazer de volta a confiança e a presença que era capaz de afugentar meus demônios, eu preciso aprender a lidar com meus monstros sozinha, porque eu estou sozinha há muito tempo e, só assim, talvez eu me sinta livre o suficiente pra fechar as portas que venho tentando, a custo de sangue, lágrimas e dor, manter abertas.

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