Sobre crianças que usam facebook
Outro dia, eu li uma reportagem
falando sobre uma criança de dez anos que fôra exposta à uma situação
constrangedora. Por sorte, ela não fôra aliciada, mas teve sua inocência
invadida por um “coleguinha” um pouco mais velho que a convidava a ir na sua
casa, com propostas, evidentemente, mal intencionadas. Por sorte também a
garota perguntou à mãe se poderia ir, e contou que o colega havia lhe chamado
no facebook.
A mãe dessa criança de classe média é
uma trabalhadora, com outros três filhos menores, que tem de cuidar sozinha e
precisa de entreter a criançada. Na casa possui internet e um computador de
segunda mão, além do celular da jovenzinha, ganhado de natal por ser uma boa
garota e ajudar nas tarefas de casa.
A criança tem hábitos caseiros,
chega em casa e já pega o celular para conversar com as amiguinhas no whatsapp e
curtir coisas no “feice”. Ela não gosta de televisão, não fica na rua e isso já
é algo bom.
Ou nem tanto.
A mãe, que informou que os filhos
mais novos (de oito e sete anos - o bebê de dois já seria demais, né) também já possui uma conta na rede social, disse
que permite os filhos navegarem na internet e não fica “vasculhando” por achar
que eles têm direito à privacidade, mas às vezes pede a filha o celular e dá
uma olhada no que as crianças tanto fazem diante da telinha. Ela afirma que
sempre “se gabou” por não ter que buscar os filhos na rua, que eles estão em casa.
Após o convite do garoto a mãe olhou
com mais cautela a conta no facebook da menina. Inúmeros contatos desconhecidos,
apesar de não haver nada incrimidador, a garota participava de grupos que
falavam de coisas de adultos, com humor de adulto e adicionava adultos que ela (a mãe) nunca viu como amigos. O susto foi grande quando viu várias fotos da sua filha
com maquiagem mal passadas e roupas curtas, até mesmo para uma criança.
“Todo mundo tem ‘feice’, whatsapp e celular” foi o
argumento da pequena quando a mãe confiscou o aparelho e chamou um amigo para
bloquear, não só a rede social, mas vários outros conteúdos que os filhos
estavam expostos. Eles teriam que encontrar outra forma de diversão.
Algo que me chamou atenção na
reportagem foram os comentários. Muitos culpavam a mãe, mas grande parte a
julgou por ter tirado os filhos desse meio, apontando-lhe um caminho mais “fácil”
para manter os filhos na linha e em casa ao mesmo tempo. Alguns sugeriram que a
moça processasse a rede social pelo que ocorreu com a filha. Fiquei feliz de ver que ela foi sensata.
O facebook é claro: para criar um
perfil na rede social a criança deve ter idade igual ou superior aos treze anos.
Os pais da criança que mente a idade para criar a conta são passíveis de
punição.
Eu concordo que as ruas, hoje em
dia, estão perigosas, mas o ciber
universo também está, e é uma tremenda ilusão pensar que as crianças estão
seguras dentro de casa, enquanto navegam na internet. Não deixaria um filho meu
participar da rede social, nem de outras. Penso eu que seria uma tremenda
injustiça com ele privá-lo da infância e da inocência ao expô-lo em um mundo
que nem adultos sabem se comportar. Criança precisa brincar, precisa correr na
rua, jogar bola, soltar pipa. Fazer amigos face a face... pode até jogar um vídeo
game, usar a internet, mas não como premissa, não com a intensão de mantê-los
em casa e, sempre, sempre com a supervisão de um adulto, pois esse mundo está,
cada vez menos, auspicioso.
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