Tic...tac...

Sabe quando no meio do dia você lembra de algo de muito tempo atrás... 
é como se alguém apertasse o botão do pause e, embora a vida segue, o silêncio soa mais alto. 
Sabe quando esta lembrança te paralisa de forma tão imediata que, tudo, absolutamente tudo perde o sentido repentinamente....
Sabe quando seus olhos se inundam, te falta o ar, some sua voz... assim no meio do dia, ou em uma noite vazia e tudo aquilo que você faz questão de deixar adormecido explode dentro de você. 
A foto na estante é tão vazia que você não consegue olhar pra ela e todas as lembranças do que foi e do que poderia ter sido explodem em um caleidoscópio em sua mente... 
Você não consegue mais olhar as fotos... 
e as lágrimas caem pesadas dos seus olhos porque você não consegue as conter. 
E você lembra e relembra 
e cada nota da canção que insiste em tocar é o tom da voz que não sabe mais como ouvir...
E você lembra... 
perdendo todos os seus passos sem rumo em um horizonte que não reflete mais a direção do seu olhar...
Então você se da conta que se passou tanto tempo... 
tanto tempo que a saudade já é parte de você, como um parasita que te consome silenciosamente enquanto você tenta seguir em frente... 
Mas como você pode ir em frente, se a luz que brilhava em seu caminho se apagou?
Você se questiona, você se desespera 
olhando em volta e percebendo que todos os dias você acorda e decide por acreditar que nada aconteceu... 
e que essa distância é só questão de tempo.
Mas o tempo passa, e passa... 
alguns anos vão ficando para trás e você se desespera mais uma vez, 
mais outra e de novo, 
porque a saudade, em alguns momentos, é tão intensa que se resume unicamente em desespero, silencioso e contínuo, 
para no outro dia você acordar novamente com o sorriso enferrujado e ir... 
não se sabe mais aonde.
Sabe quando você olha pela janela, em um fim de noite de abril, em que há uma brisa selvagem invadindo seu quarto, e você sente um nó em sua garganta sufocando e tirando sua voz... 
talvez você até tente gritar, só para ter certeza que ainda é capaz, ou que alguém ainda pode te ouvir...
mas não adianta, você só quer o silêncio e a solidão que você alimenta. 
Sabe quando a tatuagem sobre sua pele arde... 
arde de forma tão cruel te lembrando da promessa que fizeste diante de um corpo inerte de nunca, nem por um dia esquecer... 
nem por um dia... 
Você se questiona... 
você tentou tantas vezes entender... 
Sabe quando você não quer dizer adeus, mas revive a despedida, 
quando você sabe que o céu está limpo, sem nuvens, mas, por mais que você olhe e procure, está também sem estrelas... 
vazio, sombrio e distante... 
e você revive a despedida mais uma vez, 
e outra... 
porque você sabe, se passou tanto tempo e mesmo assim você ainda quer descobrir que foi só um pesadelo que você tenta acordar dia após dia... 
você só quer acordar... 
nem que seja só por um minuto 
e o tempo continua passando... 
tic... tac...

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