A "liberdade" social

Sempre quando abordo o assunto "evolução tecnológica" com alguém, gera uma certa polêmica, principalmente porque sou estudante e atuante da área de tecnologia e todos esperam que eu defenda esta era com unhas e dentes. Na verdade, apesar de ter muito interesse profissional e intelectual no assunto, eu não acho que a tecnologia trás apenas progresso. É claro que a descobertas de novas linguagens de programação, a expansão das fronteiras em apresentar soluções para praticamente tudo o que nos é exposto e a facilidade de adquirir informação e conhecimento me fascinam, mas, por outro lado, desde o advento da internet, em meados da década de 90, cada vez mais as pessoas estão se auto virtualizando. 
Radicalizando (um pouco) o que percebo é que atualmente temos "informação demais" e, por não sabemos o que fazer com tantos bits, misturamos tudo e criamos conceitos e opiniões baseados em uma vida e uma experiência paralela. Se por um lado está tudo mais fácil, por outro as coisas perderam o valor, tanto sentimental quanto comercial. Penso eu que não estávamos preparados para lidar com esse acesso fácil às coisas, e acabamos-nos por inverter os valores sociais e morais em prol de permanecer no corrente modismo de "compartilhar tudo".
Privacidade é uma das coisas que não existe mais. Dos quase um bilhão de usuários do Facebook, por exemplo,  poucos são os que mantém uma certa coerência e não saem postando coisas pessoais e sem sentido. A rede virtual tornou-se tão importante que as pessoas não percebem a realidade em sua volta. Pensar onde isso vai nos levar me dá medo.
Eu reparo, por exemplo, que muitas pessoas compartilham "bom dia", "boa tarde", "boa noite", "boa semana", "boa sexta-feira" etc... o tempo todo, mas andam nas ruas de cabeças baixas e um rosto contrito, são incapazes de cumprimentar alguém. Outra coisa que vejo muito (e me incomoda demais) é que casais postam o tempo todo mensagens (prontas) e "eu te amo" pra cá e "eu te amo" pra lá, mas fica o dia todo sem sequer ligar para a pessoa, não escreve um recadinho de próprio punho (e próprias idéias) pra ela e se a pessoa não estiver online ela só saberá que foi lembrada quando conectar novamente. Que intuito tem isso? Dizer há milhares de pessoas que amo alguém, mas não dizer a ela somente? 
Contudo, isso são exemplos pessoais e, apesar de ridículos, não é da minha conta. O que me incomoda, particularmente, é o tempo que perdermos de nossas vidas retransmitindo ideologias que não são nossas, conceitos que não fazemos ideia do que se trata. A exemplo disso, cito o burburinho recente sobre os "médicos cubanos". Uma briga política que poucos sabem realmente do que se trata e pessoas se declarando contra, ou a favor apenas para seguir a correnteza. Passamos a viver incautos numa "inserção social" irreal, já que tornamos-nos cada vez mais propensos a compartilhar aquilo que "achamos" que nos representa, talvez pelo mero fato de ter sido dito por alguém que respeitamos ou por uma classe que nos inserimos. Com isso os valores reais e a liberdade de pensamento vão sendo manipuladas de forma que sequer percebemos que estamos escrevendo que somos livres em caixa alta, enquanto em nossa boca há uma mordaça.

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