Pela Janela
De repente, não mais que de repente...
as palavras aos poucos surgem na memória como pensamentos desconexos. Eu me pergunto sobre a direção do vento, sobre a ausência do luar, não quero pensar em nada que me faça sentir, mas é inevitável desviar por tanto tempo o olhar... Não há estrelas nessa noite fria, de outono...
Eu gosto do outono, é a estação mais sombria e perversa, carregada de devaneios insondáveis. As pessoas ficam tensas na expectativa do inverno e eu, particularmente, me divirto com a nudez dos jardins, como se as flores estivessem em um apelo silencioso e quieto pela atenção que há muito não recebem. Os parques ficam mais convidativos, não sei dizer ao certo se pela ausência de pessoas ou simplesmente porque a beleza mórbida das folhas secas dançando no vento me fascinam.
Mas é "de noite que tudo faz sentido", gosto das noites frias e mergulhadas na ausência. E me sinto relativamente bem quando somente as fotografias me fazem companhia. Posso ouvir o som da cidade lá fora, mas a balbúrdia não me atrai. Me perco nesses retratos... nas lembranças de cada sorriso, no som de cada voz e, faz tanto tempo que já nem sei...
Está tudo estranho. Hoje eu desejei poder dar um abraço, poder trocar confidências. Eu tinha tanta coisa para contar, as coisas mudaram tanto, as ruas não são as mesmas... e eu me lembro de quando tudo parecia mais simples, por mais que as circunstâncias fossem estonteantes. Não havia esse silêncio doente, nem fotografias com rostos emoldurados nas paredes... mas foram apenas elas que restaram e pouco a pouco até mesmo as lembranças vacilam na memória, momentos que seriam eternos começam a se perder no horizonte, em passos lentos e sem deixar vestígios.
E estranho depois de tantos dias sentir uma lágrima turva em meus olhos, eu não estou pronta para deixar todo meu sonho ir embora, não quero deixar que a ferida se cicatrize nem que a dor se esvaia, pois e ela que me faz forte. Mas o tempo insiste em levar de mim tudo aquilo que me mantém com os pés no chão e não é que esqueço, mas simplesmente as lembranças não causam mais aquela sensação de mariposas voando no estômago, nem aquele nó amargo na garganta. Apenas quando tento encontrar o mesmo brilho daquele olhar em cada fotografia e percebo que só restaram recordações empoeiradas na estante e que a saudade se traduz nessas lágrimas distantes e acelera o coração dentro do peito, tentando dizer no silêncio que daria a vida por mais um minuto do sorriso mais lindo do mundo...
Marcela, Você fez meus olhos encherem de lágrimas nessa parte:
ResponderExcluir"Apenas quando tento encontrar o mesmo brilho daquele olhar em cada fotografia e percebo que só restaram recordações empoeiradas na estante e que a saudade se traduz nessas lágrimas distantes e acelera o coração dentro do peito, tentando dizer no silêncio que daria a vida por mais um minuto do sorriso mais lindo do mundo... "