São mudas as neblinas nesta ilha É de pobreza o pão que alimenta o meu sentir Oiço o mar com os meus próprios dedos Parti do desencontro dos meus derradeiros medos
Parti e deixei no cais mil dúvidas Lembrei tempos que corri feliz pelas amoras Nesses dias bebi sofregamente a vida Nesses dias a minha alegria era incontida
Cinco letras… Cinco pontas de cadente perdida na aurora Na loucura de alguns instantes escrevo Descalço vou adiante num ir longe, embora
Solto das mãos murmúrios sussurrantes Do basalto explode um bando de pombos bravos, alguns negros Há um livro branco apenas com a palavra ausência Há uma carta de marear para um rumo de mil segredos
Flores de solidão crescem em pedaços de fria lava Um espantalho saltou-me do bolso a remexer Uma sombra desceu a janela e tocou-me Cerrei olhos para sentir o que não queria ver
Pensando bem, 2023 não foi este ano caótico que, sem pensar, fico reafirmando por aí. Foi um ano de faxina e, nessa faxina, descobertas. Acho que foi assim para muita gente. A gente aprendeu que devemos reclamar, que devemos dar ênfase aos nossos perrengues, problemas e frustrações, enquanto nos bastidores corre um riacho calmo e constante. Passamos a vida dando atenção às coisas que não dão certo. Tanto que lembramos muito mais do que nos frustrou do que do que conquistamos. Acho que todo mundo deve ter essa visão deturpada da vida, como se fôssemos programados para manter a cabeça baixa para não vermos tudo o que existe à nossa volta. Passa um filme em minha cabeça. Uma animação Disney com nuvens e balões em tons de pastéis, e flutuando nesse lugar suave e colorido, há uma criança vestida de princesa e sapatos de bailarina e cabelos cacheados castanhos, com cachos suaves. Que criança bonita! Mesmo com os joelhos escuros dos ralados da infância, mesmo com algumas marquinhas em seu ros...
Eu sinto em meu corpo uma brisa fria, mas o dia está quente la fora. Há algumas estrelas solitárias no céu escuro sem a presença da lua. Sinto um cheiro entrar pela janela do quarto, é doce. No geral, faz silêncio, mas se eu me concentrar eu ouço os ruídos da vida que segue seu fluxo, la fora. Eu não faço mais parte. Minha pele cheira a sabonete, no meu recanto só há a penumbra e um vazio tão intenso que incomoda. Eu fecho os olhos, puxo o ar... quero que as palavras fluam mais uma vez e encontre o mais profundo abismo dentro de mim, trazendo essa dor que insiste em incomodar. Me pergunto o sentido de permanecer distante da vida lá fora. Me questiono o motivo de não me aproximar. Quando olho, parece que já faz alguns anos que deixei os remos e não controlo mais o rumo que eu sigo. Já faz algum tempo que me alimento dessa letargia e de pílulas para dormir que me causam insônia. Já faz algum tempo que estou perdida e caminhando sozinha. Eu não encontro as respostas, mas ...
você não sabe, mas eu já te toquei. na ideia. na pausa entre um assunto neutro e o sorriso torto. na respiração um pouco mais funda em meu perfume. na vontade crua de fingir que era só educação. eu vi. como teus olhos me vestiram antes de encontrar os meus. como tua voz mudou de textura, da formalidade ao sussurro não dito. e eu pensei em dizer, mas seria injusto. comigo, contigo, com o que não faremos. porque se eu dissesse, você saberia. saberia que eu reparei na forma como teu corpo ocupa espaço. no jeito que tua camisa dobra no ombro. no calor do teu pescoço imaginado. na curva dos teus lábios quando ri sem motivo. eu imaginei teu cheiro. não o do perfume... imaginei tua boca:lenta. insegura, no começo. até descobrir que eu gosto de comando. Nada é mais perigoso do que alguém que provoca, sem saber o quanto provoca. ou sabe? sabe.
São mudas as neblinas nesta ilha
ResponderExcluirÉ de pobreza o pão que alimenta o meu sentir
Oiço o mar com os meus próprios dedos
Parti do desencontro dos meus derradeiros medos
Parti e deixei no cais mil dúvidas
Lembrei tempos que corri feliz pelas amoras
Nesses dias bebi sofregamente a vida
Nesses dias a minha alegria era incontida
Um radioso domingo
Doce beijo
Cinco letras…
ResponderExcluirCinco pontas de cadente perdida na aurora
Na loucura de alguns instantes escrevo
Descalço vou adiante num ir longe, embora
Solto das mãos murmúrios sussurrantes
Do basalto explode um bando de pombos bravos, alguns negros
Há um livro branco apenas com a palavra ausência
Há uma carta de marear para um rumo de mil segredos
Flores de solidão crescem em pedaços de fria lava
Um espantalho saltou-me do bolso a remexer
Uma sombra desceu a janela e tocou-me
Cerrei olhos para sentir o que não queria ver
Boa semana