Tatuagem
Por mais que eu tente explicar, parece que as pessoas não querem entender.
Eu me pergunto: “Por que não pode haver uma amizade real e sincera entre um homem e uma mulher?”
As mentes das pessoas rodam em torno dessa pergunta e, não encontram a resposta por não olharem para dentro de si. Todos estão incautos em sua própria arrogância e esquecem-se dos princípios básicos, da verdadeira essência de nós mesmos. Sim, estamos perdidos num lamaçal de desespero e preconceitos que inebriam a razão, a liberdade e os sonhos humanos.
Todo mundo quis saber por que eu quis tatuar o nome dele em meu corpo, todo mundo aguçou suas mentes a perguntar “quem é ele?”, mas ninguém estava disposto a acreditar na resposta, a única resposta, que eu tinha para dar. “Foi a única pessoa que amei na minha vida, meu único amigo”... Esta é uma resposta sutil de mais, que não satisfaz o ensejo curioso dos seres opróbrios que me cercam, que tentam me prender.
Quando eu fecho os olhos eu ainda posso sentir o olhar doce e sincero que ele me olhava, eu ainda posso gozar dos reflexos do sorriso sereno e calmo, ainda posso sorver o abraço quente, envolvente que me acalentava, que me acompanhava e eu posso olhar em volta e perceber que faz algum tempo.
Depois de dez meses eu consigo olhar as fotografias com os olhos secos, mas não sem um aperto profundo na alma. Eu posso voltar no tempo por alguns instantes e focalizar momentos únicos que ficaram eternizados em mim. Depois desse tempo eu desfruto do silêncio quieto para absorver as notas da voz suave, o perfume ardente, a presença real, eterna e saudosa que me cerca. Mas confesso que tem sido esporadicamente. Tem dias que todas as horas se consomem sem que eu o sinta no vento.
Naquele dia, 11/04/2010, eram quase onze da noite quando meu telefone tocou. Eu já estava dormindo, hesitei ao atender por algum momento, mas a insistência me fez relutar. Lembro que fazia uma noite morna, um silêncio confortável. A voz do outro lado era seca, quase programada para me despertar atônita do meu sono, e me dizia, da maneira mais sutil que se pode dizer, que a pessoa, aquele que eu amava com todo amor que houve um dia em mim, o qual eu entreguei todo meu sentimento de amizade, de companheirismo, de cumplicidade da forma mais pura e sincera que eu poderia exercer. O que eu chamava de amigo, o que eu sentia irmão. O que esteve comigo nas horas mais dispersas e complicadas da minha vida, o que me acalmava com seu abraço. Ouvi avidamente que fora um acidente grave, que seu corpo jazia, sem vida, irreconhecível, no local. Eu não fui capaz de entender o que isso quis dizer, mas nesse momento algo já sufocava em mim desesperadamente. Tive vontade de gritar... Tive intenção de correr... Queria silenciar os ecos daquela voz dentro de mim. Queria despertar naquele momento e perceber que estava tudo na sua ordem natural. Pouco depois meus olhos confessaram ser verdade aquele fato, eu o perdera, do jeito mais arrogante, mais inevitável que podia imaginar perdê-lo.
Ninguém me perguntou se eu estava preparada para isso. Eu não sabia, da última vez que o vi, que aquele seria o último olhar, que seria o último abraço, que seriam as últimas palavras. Eu não tive a chance de mais uma vez dizer o quanto eu o amava. Não disse o quanto ele era importante na minha vida, não disse o quanto era grata por tê-lo e agora ele estava ali, diante de mim, inerte, preso em uma condição irrefutável enquanto a agonia, o medo, o desespero me consumia velozmente. Ele fora arrancado da minha vida, como a página mais importante da história, deixando incompleto o que havia passado, e sem sentido o que estaria por vir.
Amanhã fará dez meses que passei a viver do meu ébrio silêncio, encontrando razões nas coisas simples para continuar, em meio ao desejo errante de parar, de buscá-lo a qualquer custo. E o tempo, esse brincalhão impróprio, tenta arrancar aquilo que restou. Não as lembranças em si, porque essas não há tempo capaz de roubar de mim, mas ele tenta, intenta tornar cada vez mais frágil a memória, a fim de cicatrizar a dor que a saudade insiste em abrir. Eu não quero esquecê-lo. Não quero deixar de pensar no meu amor nem um segundo. Não quero deixar de amá-lo. E se o tempo, sutilmente, insiste em afastá-lo, eu o desafio, torno possível não perdê-lo, eternizando em mim a lembrança de um amor incondicional.
Muito bonito, e triste... Não sabia que fazia tão pouco tempo. Sempre me pareceu que ja fazia anos que ele se foi.
ResponderExcluirSe um dia vc disser que nossa amizade ao menos anestesia esta perda; se disser que eu ocupo um pedacinho desse coração já tão preenchido por este lindo amor; se por outras vezes você disser que eu, ou mesmo outro alguém, salvam um pedacinho de cada dia seu e que a vida vale à pena, sentir-me-ei com a certeza que a nossa amizade responde à pergunta que a maioria das pessoas insiste em afirmar ser utopia.
ResponderExcluirOi, querida, vc fez um blog novo, que legal. Blog é bom para expressarmos nossos sentimentos, compartilhar experiências e quem sabe ajudar outras pessoas. Eu sei bem como isso foi díficil para vc, e ainda está sendo. Sabe, a maioria das pessoas é muito limitada, muito dependente das opiniões que a sociedade impõe, por isso dizem que homem não é amigo de uma mulher. Por experiência própria, sei que não é verdade e acredito sim que existam homens puros de alma que sabem ser amigos como foi o seu (e eu acredito que sempre será!). Vc não deve esquecê-lo, pessoas boas devem ficar em nossos corações e memórias para sempre e se te faz feliz, se te traz paz tatue o nome dele. Ninguém tem o direito de te falar nada contra isso!
ResponderExcluirBeijos! (amei a msg no celular!)
Olha, a foto não tinha aparecido antes, ficou bonita sua tatoo!! Uma homenagem e tanto!
ResponderExcluirOi Mi.. Linda!!!
ResponderExcluirobrigada pelo carinho!
não foi coragem, e sim um ato de amor...
ResponderExcluirparabéns! é triste, mas muito lindo oque voce fez.
eu faria o mesmo. mas se Deus quiser ele so vai parti depois de mim, eu não aguentaria! ele é meu primo e meu grande amigo, mas velho que eu 11 anos e que eu não suportaria perder!
parabéns mesmo!
to te seguindo!
Linda homenagem, é triste e bonita ao mesmo tempo uma história como essa! mas você está de parabéns, suas palavras mostram o seu carinho, e sua tatuagem apenas eterniza o que já era eterno.
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