Um lembrete para o futuro

bailarina em treinamento, feliz, em um ambiente colorido

Pensando bem, 2023 não foi este ano caótico que, sem pensar, fico reafirmando por aí. Foi um ano de faxina e, nessa faxina, descobertas. Acho que foi assim para muita gente. A gente aprendeu que devemos reclamar, que devemos dar ênfase aos nossos perrengues, problemas e frustrações, enquanto nos bastidores corre um riacho calmo e constante. Passamos a vida dando atenção às coisas que não dão certo. Tanto que lembramos muito mais do que nos frustrou do que do que conquistamos. Acho que todo mundo deve ter essa visão deturpada da vida, como se fôssemos programados para manter a cabeça baixa para não vermos tudo o que existe à nossa volta.

Passa um filme em minha cabeça. Uma animação Disney com nuvens e balões em tons de pastéis, e flutuando nesse lugar suave e colorido, há uma criança vestida de princesa e sapatos de bailarina e cabelos cacheados castanhos, com cachos suaves. Que criança bonita! Mesmo com os joelhos escuros dos ralados da infância, mesmo com algumas marquinhas em seu rosto, mesmo com alguns pelos nos braços e nas pernas, é uma criança bonita, que tem os olhos brilhantes e o sorriso sincero. Uma criança que está olhando em volta e feliz de poder olhar para aquele lugar feito de algodão doce. Ela não se importa com os espelhos e telas que a mostram o tempo todo, não se importa com o que veste, ela se sente uma princesa. Seus olhos não se desviam para julgar ou desejar o que as outras pessoas têm ou fazem, a criança está feliz e completa.

Mas em algum momento não se sabe onde, nem porquê, tudo ficou cinza, barulhento, como o centro de uma grande cidade, escura, suja! Há sombras sob as árvores, há uma película invisível que força não olhar para a luz. Há um medo impregnado por todos os lados. Um sussurro constante dizendo mazelas em tons sórdidos.

As pessoas não olham mais para fora de si. Isso é tão triste! Mas eu estava falando de 2023. Eu não sei como descrever meu ano, mas eu sinto que foi um ano importante. Poderia dizer que foi um ano comum, mas tudo o que não foi, foi comum. Eu me sinto olhando por uma janela e contemplando algo brilhante no alto da montanha, tentando advinhar se é um ovni, um carro passando, um espelho... um girassol ou o pote de ouro no fim de um arco-íris. Eu me sinto sem medo. Apesar de estar confusa.

No ano de 2023 eu conheci alguns monstros. Crises de ansiedade em que achei, de verdade, que eu iria morrer, momentos em que tive tanto medo e me senti tão sozinha, que desejei a morte. Eu pensei que não daria conta, pensei que não poderia continuar. Eu pensei em desistir, pensei em desistir de tantas coisas e ao mesmo tempo eu tinha certeza que estava desistindo apenas de mim e me forçava a permanecer, a agarrar o matinho que me mantinha perto do topo. Eu não queria desistir de mim e eu não desisti. Como eu posso achar esse ano ruim.

Eu saí de alguns ciclos, me livrei de algumas culpas, deixei alguns fardos para trás. Isso não é mais importante? Eu consegui aprender alguma coisa e olhei para o caminho, olhei em volta, vi o trajeto por que passava. Eu achei longo, achei difícil, achei perturbador... mas olhando para trás, para o tanto que avancei, houve momentos fáceis também, não teria avançado tanto se não houvesse períodos de calmaria.

Eu aprendi muito sobre mim, aprendi coisas que eu achava tão impossíveis, e no fim é só fazer! Aprendi que temos que ir com medo mesmo, é a única forma de ter certeza, tem que provar. Sim, parece uma frase de coach de meia tigela, mas às vezes temos que deixar a necessidade do perfeito e só usar o bom e velho clichê para dizer o que é preciso. Temos que ir com medo mesmo.

Eu não conseguiria dizer em um post de blog tudo o que aconteceu, mesmo que no dia a dia foi a mesma rotina de sempre, dentro de mim ocorreu milhares de vidas, cada uma me ensinando algo diferente e novo. Algo que eu tinha me esquecido: há um mundo colorido se eu olhar para cima.

Eu agora vou tentar chegar lá, naquele lugar em que eu serei a princesa. Eu quero um lugar onde eu possa flutuar e vou continuar me livrando dos pesos que me prendem nesse chão podre. 2023 foi um ano bom, e sim, eu posto no blog porque é datado. Daqui alguns anos eu vou voltar aqui e saber que no primeiro dia de 2024 eu olhei para meu ano e reconheci que foi um ano bom, foi um ano que eu consegui me ver.

Eu vou me lembrar que eu já comecei, que caminhei tudo isso em um ano. Que basta manter o foco no principal e, se cair, não precisa voltar lá no início toda vez. Se cair... lembre-se que sempre tem um matinho para se agarrar. Você não precisa cair no fundo. Se segure, você vai conseguir se erguer e continuar a partir daqui.

Você tem novas ideias, tem desejos, metas, sonhos... tudo bem, todo mundo faz metas, nem que seja mentalmente, todo mundo faz uma promessa. Tudo bem... você pode fazer uma lista enorme de coisas para fazer e sonhos para correr atrás, só não se esqueça que, se estiver pesado demais, você pode descansar. Você não vai perder tempo, não vai perder seu progresso... você pode descansar!

Você pode rever seus planos, pode arrastar para um lado ou até deletar alguma coisa, deixar para o ano que vem. Você pode... lembre-se de voltar aqui nesse post público, que talvez esteja expondo demais... lembre-se que você escre

veu um lembrete para você mesma, você pode até parar se quiser, mas não precisa chegar ao fundo do poço para isso, você não precisa estar no escuro sozinha, com medo para admitir que você precisa de uma pausa. Você pode parar enquanto é dia, você pode parar só para observar a volta. Não precisa chegar no final para olhar em volta, mesmo no dia a dia, na sordidez da rotina, nos dias chuvosos e cinzas... neles também você encontra vida. Você pode ver as árvores felizes recebendo a chuva, e se prestar atenção, vai ver que elas estarão dançando. Nas noites sem lua, observe que as estrelas brilham mais e você não precisa estar no deserto do Atacama para olhar o céu. Mesmo daqui, da janela do seu quarto, há estrelas. Só olhe!

Você pode tropeçar. Você pode se desviar por algum atalho e depois perceber que estava errado. Vai acontecer, mas lembre-se, você não precisa se soltar e deixar-se cair até o fundo outra vez. Só volte alguns passos, comece de onde você errou, não precisa apagar todo o progresso por isso... eu sei que é tentador, sei que desanima perceber que ainda não aprendeu todo o caminho. Sei que é frustrante quando perdemos tempo em lugares que não deveríamos ir... mas não precisa começar do zero, é só pegar o retorno e voltar... não desista...

Talvez esse texto tenha virado um discurso religioso, mas você precisa ouvir de formas simples, diretas e clichê... clichês são fáceis de compreender... você só precisa parar e respirar... a crise vai passar, não precisa anular tudo em você só porque você errou. Não precisa se castigar, se trancar e se submeter à escuridão e ao vazio da sua mente por isso. Só você pode te manter na luz, ou o mais próximo da luz, não precisa conhecer todo o caminho para caminhar... não precisa saber onde o caminho vai dar, mas você sabe de onde veio, não queira voltar! Por favor...

Vai dar certo!

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