Sobre amizades, rede sociais e necessidade de aceitação

O tempo passa e vamos percebendo o que realmente é importante e o que é superficial. Lembro que, nos anos dourados do Orkut eu tinha mais de 2 mil conexões. Embora falasse com muitos deles, a grande maioria eram apenas conexões... hoje, com o Facebook, meus contatos não chegam a 200 pessoas e, ainda assim, eu não falo com todos eles. 

O pesquisador e cientista Robin Dunbar divulgou um estudo que diz que conseguimos manter uma relação social com apenas 150 pessoas e dessas, apenas 5 são amigos verdadeiros. Todos nós notamos que temos maior afinidade com uns e com outros em tempos diferentes né? Mesmo que temos uma lista de afetos que excede cinco pessoas, se analisarmos nosso comportamento, é bem natural que ora temos um ‘melhor’ amigo, ora temos outro. Facilmente podemos constatar a realidade do estudo feito por Dunbar, estreitando nossos relacionamentos em uma camada interpessoal muito fina e seletiva. 

Ainda assim, o nível de ‘sociabilidade’ das pessoas ainda é medido pelo número de conexões que a seguem. Quanto mais conexões e seguidores, mais social é aquele ser, mesmo que isso não significa, necessariamente, que a pessoa tem tantos amigos assim. O grande problema é que as próprias pessoas fomentam esses ideais e enfraquecem os relacionamentos sólidos. 

É muito natural as pessoas se afastarem. Novos tempos, novas rotinas, novos interesses. Existe uma gama de fatores que interferem diretamente nos relacionamentos, fazendo com eles se dissipem no tempo. Quantas vezes não olhamos saudosos para trás e percebemos que nem falamos mais com aquele amigo antigo da quinta série? É natural e saudável e sim, as pessoas precisam ir para que novas possam chegar. Precisamos estar em movimento o tempo todo e, embora aquele contato possa fazer parte de sua lista de contatos no Facebook, dificilmente teremos uma relação sólida com ele a vida toda. 

Ainda sobre relacionamentos. Nós como humanos temos uma necessidade inexplicável de sermos aceitos. Em uma pesquisa sobre o assunto, percebi que isso beira a uma patologia (e em alguns casos até é diagnosticada como tal) e cerne nossas atitudes de um jeito perturbador. Com as redes sociais a exposição pessoal se tornou mais visível. Há pessoas que ‘catalogam’ tudo o que fazem. Posta sobre todos os lugares que frequenta, sobre todos os filmes e séries que assiste, sobre as músicas que escuta, sobre todas as coisas que compram e, ainda, sobre todas as opiniões que tem... mas o problema é que no meio de curtida pra lá, curtida pra cá, levanta-se uma necessidade de provar que é melhor, está melhor informado, assiste as melhores coisas, ouve as melhores músicas e lá se vai a diversidade e o respeito. Conheço pessoas que tentam passar uma impressão de ‘light’ e ‘desligado’ a todo custo, mas passa a vida tentando provar que ser ‘light’ e ‘desligado’ é o modo certo de viver e sofre quando alguém tenta mostrar que ‘não é bem por aí’. Conheço pessoas que não conseguem ouvir um argumento sem posterga-lo com um ‘concordo, mas...’ e sabemos que nunca vem nada de bom depois de um ‘mas’. 

Eu não entendo, embora, admito, também fiz (e faço) muito isso. Já passei tempos e tempos compartilhando postagens e mais postagens apenas para as pessoas verem ‘quem’ eu sou e ‘no que’ eu acredito (ou não acredito). Dia desses, abri minha própria timeline e percebi que eu sou uma pessoa insistente... várias e várias postagens sobre o mesmo assunto. Que coisa chata! Será que não buscava apenas aceitação? Muito provável que sim. Mas o pior é procurar uma aceitação de quase 200 pessoas, das quais não convivo nem com 5% delas. Então, onde está o sentido disso? 

Por perceber que ninguém é obrigado a lidar com minha necessidade de aceitação ou talvez, simplesmente por não querer lidar com a necessidade de aceitação alheia decidi me isolar das redes sociais. Parei com as postagens frenéticas o tempo todo e com a frequência de visualização das postagens dos meus ‘amigos’, grupos e páginas que eu sigo. Desde então, me sinto menos afetada pelas questões e opiniões de outras pessoas. Isso é um grande passo para mim, pois mina a vontade de ‘mostrar’ como estou certa e me faz valorizar mais os diálogos com meus (5) verdadeiros amigos.

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