Triângulo das Águas - Caio F. Abreu

Triângulo das Águas
Gostaria que o livro fosse lido e sentido assim. Como um murmúrio do rio, um suspiro do lago ou um gemido do mar” – Caio Fernando Abreu

Não sei dizer se é a irreverência ou, simplesmente, o talento que torna Caio F. Abreu um ícone da literatura nacional, admirado por seus escritos delongados e cheios de sentimentalismo, em que, a mais simples reação torna-se uma descrição enfeitada e tocante.
 
O autor escrevem em crônicas, o que já facilita muito a leitura dos seus livros, embora cada um traz uma história implicitamente ligada, os textos são, de fato independente.

Triângulo das Águas foi publicado pela primeira vez em 1983, considerado o melhor livro de Caio Fernando Abreu e reconhecido pelo prêmio Jabuti de 1984. Neste, o autor confronta seu "eu" criativo expressando as suas principais marcas, já então, registradas: a busca pelo aconchego, a solidão, o apego e desapego, a expressão do medo e a realidade quase nua em sua vida. O livro é composto de três novelas que, de certo, exige muita atenção para decifrar as entrelinhas e entender a mensagem que o autor expressa em cada uma.
 
Dodecaedro: é uma forma geométrica constituída por doze faces regulares em forma de pentágono. Isso faz todo sentido quando começamos a ler cada um dos fragmentos que constitui o texto, contando basicamente os efeitos de uma mentira sob diversos pontos de vista. A história é a mais complexa, mas também a mais interessante e, porque não, a mais inteligente. A maneira como cada parte da história se complementa, não podendo uma coexistir sem a outra, explica fatalmente o título e forma o que chamamos de sólido platônico. Mais uma vez, nosso mestre nos surpreende, mostrando-se um passo à frente, já que o platonismo nada mais é que uma ilusão. 

Marinheiro: Uma história de amor! Sim. Um conto que fala totalmente sobre os emaranhados da nossa mente quando estamos diante de um singelo amor, aqui, não completamente correspondido por consequências fatais. Quem é que nunca amou de mais uma imaginação que quase foi à loucura? Surpreendentemente Caio consegue expor os sentimentos mais ocultos que temos, nos deixando, talvez, vulneráveis. O que mais me surpreendeu nesta novela foram os diálogos, constituídos de forma direta e explicita (daqueles dos filmes de Tarantino), dando uma forma magnífica ao texto. 

Pela noite: O mais sombrio. A ausência e o medo são são presentes que forma uma áurea de desespero enquanto lemos, quase que queremos entrar dentro do livro para consolar a personagem que procura, intensamente, aplacar sua solidão. 

Antes de a música terminar, ele desligou o som e sentou no tapete em frente do outro.
- Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você podia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro? - Caio Fernando Abreu

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