Sobre o amor

faz minha cabeça
"Ame como se ama o amor"... já dizia o poeta...
E eu não sei se é só impressão minha, mas muito tem se falado sobre o amor. Eu paro e me pergunto? "O que seria o amor?" Diante dessa pergunta, não posso deixar de notar que o amor, vem ganhando muitos rótulos, títulos e especulações. O amor está sendo banalizado, tudo virou amor e o amor virou tudo. Nem os poetas contemporâneos conseguem descrever o atual status do amor em suas poesias ou canções, a simplicidade do amor já não interessa a sociedade, todos estão sedentos, procurando por aquilo que irão satisfazer a ânsia de desvendar o amor. Hoje todo mundo "ama" fácil de mais, e "desama" mais fácil ainda. Como se o amor fosse um instrumento qualquer que se pode manipular, será esse um avanço da humanidade? Antes, via-se claramente nos poemas, o amor estampado nos versos, via-se que se tratava de algo duradouro, sincero... hoje, não existe mais isso... ou, pelo menos, eu não consigo mais enxergar, nem presenciar esse sentimento quase sobrenatural.
Para tentar discorrer melhor sobre o assunto, eu pesquisei e perguntei alguns amigos sobre o amor. Os resultados são surpreendentes. Tanto se fala, tanto se espera do amor e posso citar grandes ícones da literatura, pessoas que influenciaram gerações como Camões quando diz que "o amor é fogo que arde sem se ver", como Shakespeare ao dizer que "o amor é a harmonia perfeita das vozes de todos os deuses", talvez Confúcio, "o amor é o movimento das ondas de mil oceanos"... e tantos outros que embalam, descrevem, entoam o amor em suas melodias por anos e anos, que nenhum silêncio é capaz de deter... mas isso é tão lindo, tão poético e tão fora de alcance...
A realidade é que a sociedade está prática (?) de mais. Não encontramos mais a genuídade dos sentimentos, seja ele qual for. Cada um está imerso nos seus próprios interesses, hoje ninguém se entrega mais se não for receber algo em troca, e no amor não é diferente... ou ainda vemos por aí pessoas amando aquele esquisito que fica no canto da sala de aula, ou o trapalhão do trabalho? É claro que não... as pessoas amam de acordo com aquilo que satisfazem seus desejos, suas fantasias. Ama-se primeiro o estereótipo, o que o ser amado tem a oferecer... o “ser” já nem importa tanto, dá-se um jeito... 
Eu queria falar de um amor incondicional, mas são tantas regras e exigências que, o amor está limitado. Percebi isso claramente com os textos que pedi meus amigos (dois homens e cinco mulheres) para escreverem. O desafio era responder duas simples perguntas: 
O que é o amor?
O que “você” espera dele?
Sinceramente, nenhuma resposta, por mais romântica, poética, fantasiosa, bonita... me satisfez. As perguntas continuaram sutilmente incompletas. Vamos ao que eles disseram:
Amigo 01 (Homem)
“O amor pra mim? Vamos lá. Para mim é quando se confia na pessoa, a ponto de não ter problemas de sofrer por antecipação, é quando se espera da pessoa, o que ela é. Sentir o peito quente (ninguém acredita, mas acontece comigo), quando pensa na pessoa de uma forma carinhosa... O que espero dele? Espero que seja recíproco enquanto eu estiver vivo, mais nada”.
Amigo 02 (Homem)
“Amor: Amor é o sentimento que te tira de você e o coloca no lugar e em prol do outro. Existe em vários níveis: por exemplo, o fraternal, que é aquele do cuidado; O carnal, que é o desejo. Existem muitos mais níveis ou campos, e não sabemos medir corretamente onde começa um e termina outro. Apenas sentimos. Apenas vivemos pelo outro na intensidade que esse amor nos permite. Em resumo, para mim, o Amor é o sentimento que nos faz viver além de nós mesmos.”

Amigo 03 (Mulher)
“1) O que é o amor? O amor é uma força potente que nos torna seres humanos melhores. É um sentimento pelo qual fazemos coisas que provavelmente pensávamos que não podíamos como doar-nos ao outro simplesmente pela satisfação de ver o outro sorrir. O amor é o professor que te ensina a aceitar os defeitos, superar dificuldades e nunca perder a fé. O amor é o que nos faz seguir em frente e querer viver, é por ele que fazemos qualquer coisa sem esperar nada em troca. Enfim, acho que quando se ama de verdade, realmente se vive de verdade! 2) O que eu espero do amor? Geralmente não crio mais expectativas sobre nada, mas, eu gostaria de me tornar uma pessoa melhor, aprender através do amor.”
Amigo 04 (Mulher) 
"Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como 'talvez devêssemos ser apenas amigos' se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor. Odeio o amor".
PS: Ela preferiu usar uma citação (desconheço o autor) para expressar sua opinião sobre o assunto.
Amigo 05 (Mulher)
Amor... Bom uma palavra simples, porém... complexa. O que podemos dizer, pra muitos sua durabilidade é efêmera... para outros... é eterna. Para mim... é o que levamos de melhor seja em vida, ou além do túmulo... sempre vamos ter as lembranças se arrastando conosco como sombras... pegadas... essência... Posso conjecturar que o amor seria a tal caixa de pandora; pois prefiro imaginar que sempre há esperança e ela esta inserida no amor! Amor pra mim é o puro e o simples. É real, mas infelizmente fica na obscuridade sendo impedido de se manifestar por diversas razões, a maior delas o medo... sim... medo de amar, medo de ser amado, medo da solidão, medo da não compreensão, medo do se doar, medo de errar, medo de não conseguir se levantar... Medo... sim o medo... Pois ele, como o amor, é também puro e simples; e incompreendido! O que me leva a pensar: “por que tanto medo se o amor é simples?” Mas também me respondo: “tenho medo por que eu o torno complexo”. Espero sinceramente poder saber ter equilíbrio entre minha pergunta e minha resposta, dessa forma, creio que poderei algum dia entender o princípio do que é o amor!
Amigo 06 (Mulher) 
Nos dias de hoje é realmente difícil dizer o que é o amor e o que eu espero dele, por isso demorei tanto para lhe enviar o que eu penso sobre isso. 1º Coríntios 13 com certeza é o amor perfeito. Mas como é dito no versículo 8 parte c “havendo ciência desaparecerá”. Talvez esteja aqui a dificuldade de falar sobre o amor. Mas com certeza podemos sentir o amor de Deus e da nossa família, esse é o amor que posso dizer que conheço, mas espero de verdade encontrar um homem que me ame e eu o ame também. 
Amigo 07 (Mulher)
Muitas pessoas pensam no amor como algo doce, meloso, às vezes até como fútil, umas não acreditam que ele exista e outras é sua força pra viver, não importa como o importante é que saiba amar. Amor é um sentimento onde podemos expressar o que somos ele nos liberta de um mundo monótono, pois quando amamos cada dia é diferente, tudo fica mais interessante e nos inspira a viver intensamente, nada é muito perigoso tudo é uma aventura. Esperamos que ele seja eterno e acabe com todas nossas tristezas e ajude-nos a enfrentar cada barreira com otimismo!
Esses são alguns exemplos, de pessoas que lidam comigo, sobre o amor... mas eu continuo a me perguntar? O que vem a ser o amor? Sim, porque temos declamações sobre a influência do amor, o que é necessário para amar, o que o amor faz com as pessoas, os bens, os males... mas ninguém disse “o que ele é”... em essência, em suma... uma explicação coerente passível de torna-lo afável à linguagem dos homens...
Camões, em seu momento de maior glória no amor (ou simplesmente depois de um maravilhoso orgasmo), ousou dizer “o amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade é servir a quem vence o vencedor, é ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar, pode seu favor, nos corações humanos, amizade; se tão contrário a si é o mesmo amor?” Eu digo que ele foi apaixonado, íntegro, verdadeiro e, sobretudo, ousado ao afirmar com tanta certeza o que o amor é... porque o amor é tudo isso, mas não é nada disso!
O fato é que quanto mais declamamos sobre o amor, mas descobrimos que ele está além dos nossos próprios pensamentos. Se tentarmos explicar o amor ele vai esbarrar em tantas limitações que vai deixar de ser amor. Por exemplo, diante das descrições dos meus amigos, percebo que uns condicionam o amor à confiança, à reciprocidade, à não individualidade (entrega completa), à superação das incompatibilidades, à esperança, ao medo, à eternidade, à fé, à liberdade... para algo que dizemos ser “incondicional” existe tantas condições... e se saciarmos essas condições, aparecerá outras... e outras... já dizia Charles Chaplin “o ser humano é insaciável, existe um vazio interminável no lugar daquilo que chamamos alma e, cada vez mais, perdemos o sentido na busca incessante de tentar nos satisfazer”... O amor, esse mesmo descrito aqui ou em qualquer lugar que pesquisarmos, ele não nos sacia, não preenche aquilo que nos falta. O amor por si só é incompleto. 
Eu não acredito em nada que promete me tirar do chão e a ciência não explica. 
Para falar desse tal de amor, que anda na boca de todo mundo, como a mais nova piada da roda de um bar, é preciso falar em coisas mirabolantes, em um sentimento que está além do real. Falar de algo que me torna insensível a fatos e atenta apenas a poesias, sonhos, contos de fada e canções de ninar, subestima minha vil inteligência. Falar de algo que anula minha individualidade e me faz viver em prol de outra pessoa esperando apenas a reciprocidade, ou seja, que outra pessoa viva em prol de mim, é o mesmo que me dizer “vamos trocar de vida por enquanto?”. Falar de algo que me faz aceitar tudo, suportar tudo, esperar tudo me leva a questionar “onde estão as linhas e quem mexe os pauzinhos?”, me transforma em um boneco de marionete. Falar de algo que me instiga a mergulhar naquilo que me põe medo não condiz com o mínimo de racionalidade que ainda me resta. Falar de perfeição, para mim, que sou imperfeita, afronta minha existência fútil e banal. Falar de uma liberdade que depende de outra pessoa é incoerente, porque a liberdade existe por si só. Definitivamente, todos nós buscamos cegamente por aquilo que não conhecemos, nos permitimos torna-nos seres alienados de nós mesmos para tentar amenizar a incansável busca pelo desconhecido, passamos a ser objetos inanimados daquilo que nós mesmos nos propomos... idealizamos fantasias e histórias e fugimos da realidade porque somos fracassados nessa busca, fugimos para algo surreal e inexistente. 
Eu acredito no amor! 
Mas não nesse amor dependente, ilusório, utópico. 
Acredito no verdadeiro, no que me mantém nos limites da gravidade, no que me permite ser exatamente assim... real. Acredito no sentimento que me faz ter vontade de ligar as três da manhã, acredito naquele friozinho que me faz querer escrever poemas, acredito naquilo que faz meus olhos se afogarem ao ouvir uma canção ou lembrar algum momento, acredito em Shakespeare, em Vinícius, em Carlos Drummond... Acredito no romantismo. Acredito, e assino em baixo, em Arnaldo Jabor, principalmente quando diz que “pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamo-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: “Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!". Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis. Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado”. 
Mas “eu te amo” não diz tudo... A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas, e que dá uma sacudida em você quando for preciso. Ser amado é ver como ele(a) fica triste quando você está triste, e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água. Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro. Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta... Não acredito em pessoas que se complementam, acredito em pessoas que se somam. Não acredito no eterno, no “felizes para sempre”, acredito em momentos que se tornam eternos, mesmo quando eles acabam... Para quem busca o amor perfeito, o romance perfeito, continue assistindo a novela das seis, porque o amor não existe dessa maneira... 
Enfim, Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não...

Comentários

  1. Fora a carta de paulo aos corintios, que é a mais perfeita definição de amor, eu tenho essa:


    TEREZA DE CALCUTÁ

    Dói-me, mas não me doo.
    Necessário doar, bem sei
    Levantar, postar em voo
    D´alto olhar, ver Sua Lei.

    Olhar igual a todo o Ser
    Comprazer-se co´irmão
    Dar-se simples, sem ser
    egoísta, tomado de paixão.

    Mostrou toda sua gentileza,
    Um exemplo em que se ater,
    Espírito tão forte em sutileza

    Diante da morte, ou de morrer;
    Disse modesta, Madre Tereza:
    “Amar é doar-se até doer”.

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  2. METADE ETERNA
    União particular
    - E fatal -
    Entre duas almas não há!
    A simpatia verdadeira
    Está muito acima da carnal atração
    É particular afeição
    Acima de tudo amar
    A um a outro a todo herdeiro
    Há de se observar grau de evolução
    Importa sublimar!
    Não se pode deixar enganar pelo coração
    Pois alguém que é metade de alguém
    Incompleto estará
    Lutará a briga interna
    Buscando em vão:
    Cara metade
    Alma gêmea
    Metade eterna.

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